Ângela olhava inquieta para o teto do quarto de luzes descansadas. Parecia procurar naquela superfície escura, palavras... Como se a resposta para toda a sua dor fosse ser escrita em letras garrafais lá no alto.
Era frequente Ângela passar várias noites assim, procurando respostas em seu quarto escuro. A moça não tinha mais forças para conseguir lutar pela resolução de seus problemas, além disso, há um longo tempo, buscava o esquecimento em coisas passageiras, que acabavam por sua vez, trazendo somente mais angústia.
Ela permaneceu por vários minutos procurando respostas na escuridão. Durante a sua procura, a dor parecia aumentar cada vez mais, sentiu seu coração vazio e sua existência insignificante em relação ao mundo, se é que ainda possuía uma existência. Considerou que talvez fosse seu destino sofrer, pois havia muito tempo que era banhada por furiosas tempestades, sem nenhum indício de que algum dia o céu ensolarado iria aparecer. Começou a questionar a existência de um Deus de amor, pois realmente acreditou que Deus a havia abandonado. Ângela pensou:
"Se Deus me amasse, eu não estaria sofrendo desta maneira. Onde está o Senhor que prometeu que jamais iria me deixar ?"
Foi então que, inesperadamente, Ângela ouviu uma voz insondável lhe dizer:
"Olhe na janela"
A moça ficou confusa por alguns segundos ao ouvir esta voz. Passado o momento de alienação, como ela própria o definiu, voltou a questionar o amor de Deus, O Senhor. Entretanto, ela ouviu mais uma vez a voz insondável dizer:
"Olhe na janela"
Ângela,
ainda insegura, olhou para a janela de seu quarto. Notou uma luz que
anteriormente não estava ali. Curiosa, se aproximou... Fitou a luz por vários
instantes. Sua expressão mudara. Seus olhos estavam alegres, a luz dava cor ao seu rosto. E então, ela ouviu mais uma vez a voz
insondável se pronunciar:
"Eu estou aqui, Ângela."
Ângela
respondeu imediatamente, sem perceber:
"Onde?"
E a voz insondável disse:
"Aqui, Ângela.
Saibas que eu nunca te abandonei e que jamais irei te abandonar."
Saibas que eu nunca te abandonei e que jamais irei te abandonar."
Ângela
rompeu em lágrimas e voltou-se contra a janela. Ela não conseguia
entender a razão de seu sofrimento, porque parecia caminhar em um
vale escuro e vazio, sem resposta alguma, sem nenhum indício de vida. "Se
o Senhor está aqui e nunca me abandonou, qual é o motivo
de minha dor?" a mulher se perguntou sentindo-se injustiçada por
Deus. Voltou a acreditar que não ouviu voz alguma, somente palavras oriundas de
sua insensatez.
Todavia, ouviu mais uma vez a voz insondável
insistir em lhe dizer:
"Olhe na janela."
Ela se virou e viu novamente a luz. Não entendeu ainda o que o Senhor queria lhe dizer, porém, sabia que aquela luz a resguardava de alguma maneira, devolvendo-lhe as cores anteriormente perdidas em sua vida. Contemplando mais uma vez a luz, Ângela ouviu:
"Onde está a sua bíblia?"
Ângela saiu do estado de contemplação e realmente ficou pensando em que lugar haveria de estar a sua bíblia. Fazia muito tempo que ela não lia nada no livro de seu Pai Celestial. Com a mente ocupada com os seus problemas, Ângela deixara também de orar. A mulher acendeu a luz do quarto e começou a procurar a bíblia, contudo, não a encontrava em nenhum lugar.
Depois de tanto procurar,
encontrou-a dentro de uma gaveta velha, lugar em que colocava livros antigos. Estavam ali esquecidos, e por esse motivo apresentavam-se
carregados de mofo e teias de aranha. Ângela sentiu vergonha do estado de sua
bíblia e por ter deixado ela ali, esquecida durante tanto tempo.
A moça retirou a sujeira superficial do livro e abriu em Provérbios. Mas, após ter feito isto, a voz insondável lhe disse:
A moça retirou a sujeira superficial do livro e abriu em Provérbios. Mas, após ter feito isto, a voz insondável lhe disse:
"Evangelho
de João 11:10"
Ângela
foi até o evangelho de João e quando encontrou o versículo 10, eis o que leu:
"Mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz."
Ângela se ajoelhou e pediu perdão para Deus. Finalmente ela compreendeu que Ele não a havia abandonado, e sim ela que deixou de acompanhá-lo, escolhendo conviver com a escuridão ao procurar coisas passageiras, em vez de buscar a Luz Verdadeira do Mundo.
1 comentários:
Postar um comentário